quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Conceito de Moderno e Reformas - Parte 2


Construiu-se durante o período de 1500 a 1800 um embate ideológico na mentalidade das populações ocidentais. Esse embate colocava em discussão a questão do Moderno e do Medieval, a qual se revelava sob vários enfoques. Então, o que seria moderno e o que seria medieval na visão dos homens daquela época? Como teria ocorrido essa percepção? Essas são questões básicas a serem respondidas, para que assim se possa compreender o conceito de moderno e relacioná-lo as reformas ocorridas no período em questão.
A passagem do medieval ao moderno não foi linear, como fica subentendido a partir da leitura dos livros didáticos. Essa transição ocorreu em diferentes ritmos e maneiras, sendo vislumbrada em diversos aspectos da existência humana. Alguns vultos da época tiveram a percepção de que o período no qual estavam vivendo representava um momento novo na história da humanidade, no entanto, se observamos os locais mais afastados dos grandes centros europeus, será possível notar que o processo não foi o mesmo. Inferimos, pois, que o que representava o moderno para os moradores de uma região européia, pode não ser comungado pelas pessoas de outras localidades.  
O referido processo de modernização, o qual se deu de uma maneira lenta e com várias etapas, foi modificando a visão de mundo dos europeus. Talvez, essa nova percepção de mundo tenha sido a maior conseqüência ocorrida quando da passagem do Medieval ao Moderno, pois reconstruiu a mentalidade de todo um continente, e, mais tarde, dos demais continentes nos quais foram levados esses ideários. Desse modo, percebe-se que a modernidade não ficou restrita à Europa, e, para exemplificar esse processo, há a transposição da religião luterana à América através dos ingleses, quando da colonização da América do Norte.     
Lutero é considerado como sendo um dos homens da época (século XVI) que estavam à frente do seu tempo, exercendo um papel importante no campo religioso. Mas é importante notar que a percepção de Lutero é apenas uma pequena parcela dos diversos prismas que configuraram a percepção da modernidade.
Como exemplo, podemos citar a percepção do que seria a verdade, a qual também sofreu modificações a partir do pensamento de figuras como Giordano Bruno e Galileu Galilei, vultos que também se encontravam à frente do seu tempo. A partir das suas idéias, formou-se a concepção de que não se pode mais pensar a verdade com algo que é imposto, no caso pela Igreja Católica, mas sim como um elemento dado pela natureza e que será desvendado pelo próprio homem de uma maneira individual. Desse modo, a relação homem-verdade não se dá mais de uma maneira vertical, ou seja, como realidade imposta por uma instituição que estaria acima de todas as outras e que deve ser aceita cegamente. Em confronto com os ideários anteriores, a nova concepção da realidade formada no período moderno configura-se pela forma horizontal, sendo, desse modo, autônoma e podendo ser desvendada pelo próprio homem.
A modificação da percepção da verdade alterou profundamente o campo religioso, representando uma grave ameaça à autoridade Católica. Tal fato ocorre na medida em que os dogmas da Igreja de Roma não passariam mais a serem aceitos por todos, visto que não há verdade absoluta. Partindo desse pressuposto, é possível afirmar que a partir das novas mentalidades foram ocorrendo, aos poucos, rupturas na unidade Católica, as quais seriam irreversíveis. Essas rupturas, no entanto, não representariam o desaparecimento do pensamento impregnado de forte religiosidade do povo europeu, na verdade, há uma modificação dessa visão mística. É justamente nesse ponto referente às mudanças na visão a respeito da religião, que se enquadra a essência da Reforma Luterana.