quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lutero e os Judeus - Um assunto polêmico


Capa original do livro
Vou tratar aqui de um tema bastante polêmico, envolvendo a temática referente à religião. Até que ponto o que conhecemos dos livros didáticos de História é o que de fato se deu nos nossos antepassados? Será que aqueles que são responsáveis pela sua escrita não reproduzem apenas aquilo que os convém? De fato, em toda escrita (inclusive na que o caro leitor está lendo agora) há algum tipo de interesse daquele que a produz. No campo religioso esse aspecto é bastante relevante, principalmente quando está se tratando do tripé Idade Média - Igreja Católica - Reforma Religiosa. O estudande de história do ensino fundamental e médio que não se aprofunda no tema e se restringe às informações do livro didático obtém uma imagem da época que põe de um lado a "perversa" Igreja Católica e de outro o "salvador" reformista Lutero. Como já hávia afirmado em um dos posts anteriores a história não é formada por hérois e bandidos, mas essa é a imagem difundida a respeito dessa relação. O que os livros transpoem é que revoltado com todos os desmandos realizados em Roma, o alemão Lutero rebela-se contra o Papa e a partir do seu manifesto institui a religião luterana, primeiramente na Alemanha, vindo a se difundir em outras partes da Europa e do mundo, posteriormente. Além disso, se você assiste ao fime "Lutero", vai perceber que a sua imagem é de uma pessoa pacata e defensora da paz. A leitura de um livro do próprio Lutero me fez desconstruir essa imagem de tamanha bondade e misericóridos, a obra chama-se "Dos Judeus e suas mentiras", escrito em Janeiro de 1543. Nele, o teólogo prega o ódio, a perseguição e a tomada de bens dos judeus, numa espécie de anti-semitismo. A linguagem chega a ser chula, com expressões injuriosas e repletas de ódio e inictação à violência contra os judeus, algo bastante reprovável. Esss livro teve influências sobre os ideais do regime nazista alemão, chegando a ser citado em um dos comícios dos Nacionais-Socialistas. Eis alguns trechos do livro:
- "Em primeiro lugar, queimem-se suas sinagogas e suas escolas, e cubra-se com terra o que recusar-se a queimar, de modo que homem algum torne a ver deles uma pedra ou cinza que seja".
- "Em segundo lugar, recomendo que suas casas sejam também arrasadas e destruídas". 
- "Terceiro, recomendo que todos os seus livros de oração e obras talmúdicas, nos quais são ensinadas tais idolatrias, mentiras, maldições e blasfêmia, sejam tirados deles".
- "Quarto, recomendo que seus rabis sejam de agora em diante proibidos de ensinar, sob pena de morte ou da amputação de algum membro". 
- "Quinto, recomendo que o salvo-conduto para o livre-trânsito nas estradas seja completamente negado para os judeus".
- "Sexto, recomendo que sejam proibidos de emprestar a juros, e que todo o dinheiro e peças de ouro e prata sejam tomados deles e colocados sob custódia".  
- "Sétimo, recomendo que se coloque um malho, um machado, uma enxada, uma pá, um ancinho ou um fuso nas mãos dos jovens judeus e judias, e deixe-se que eles ganhem o seu pão com o suor do seu rosto, como foi imposto sobre os filhos de Adão (Gênesis 3:19). Pois não é justo que eles deixem que nós, os gentios malditos, labutemos debaixo do nosso suor enquanto eles, o povo santo, gastam o seu tempo atrás do fogareiro, banqueteando-se e peidando, e acima de tudo isso vangloriando-se blasfemamente do seu senhorio sobre os cristãos através do nosso suor".
Bom, fiz esse post pelo fato do livro ter me chamado a atenção e, principalmente, por eu nunca ter visto esta abordagem em livro didático algum. Peço, entretanto, que o caro leitor sinta-se à vontade para tirar as suas próprias conclusões sobre o tema, assim como todos os outros abordados neste blog. O certo é que na História há fatos que não temos a mínima ideia de que eles ocorreram, ou pelo fato de não terem sido descobertos ou de serem omitidos, cabendo a nós irmos além daquilo que nos é dado. 

Getúlio Vargas – A duplicidade de um “mito”

Getúlio Vargas

É muito recorrente nos caminhos da História a existência de figuras dúplices, que comportam ideias plurais e até opostas a seu respeito. Temos como exemplo Lampião e intermitente pergunta: “Herói ou bandido?”. Também podemos incluir os bandeirantes, sobre os quais podemos indagar se os mesmos seriam desbravadores, ajudando a interiorizar o País, ou sanguinários assassinos de índios. Getúlio Vargas também se encaixa nesse perfil ambíguo quando confrontamos os avanços na economia e nos direitos trabalhistas com o regime totalitário que vigorava no Brasil.
Não se pode negar que a criação da Petrobrás, da Companhia Siderúrgica Nacional, e, principalmente, a consolidação das leis trabalhistas, foram avanços que continuam a influenciar diretamente o país. A alcunha de “O pai dos pobres” que recai sobre Getúlio não é um acaso, mas é fruto da política paternalista por ele adotada, colocando-se como protetor do povo, sobretudo daqueles mais necessitados. Os discursos a respeito da família, Deus e a Pátria como pilares da nação ratificam esse caráter getulista. Analisando outro aspecto desse período temos a sua forte ligação com os regimes totalitários, principalmente com o fascismo de Mussolini. Sendo assim, há uma contraposição entre os avanços ocorridos e a violência empregada contra aqueles que eram contra o governo. Ainda hoje se exalta a figura de Vargas pelos avanços ocorridos no Brasil, havendo sempre um “porém” quando ao aspecto repressivo por ele utilizado.
Não podemos dizer que na História há heróis ou bandidos, vilões ou mocinhos, mas apenas pessoas que constroem as suas imagens que perduram e vão sendo reconstruídas perante as gerações.